Ricardo Martins, da CEGOC
«O digital passou a fazer parte da experiência formativa.»

O diretor geral da CEGOC olha para a formação em Portugal, perspetivando o que poderá ser um cenário pós-pandemia. Com uma história de décadas no nosso país, a consultora do Grupo CEGOS está a preparar o lançamento de novos formatos digitais.

Texto: Redação «human»

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Passado mais de um ano e meio sobre o início da pandemia, como olha para o estado da formação em Portugal?

O contexto pandémico desafiou todos os players que atuam neste mercado a repensarem, reajustarem e acelerarem a sua capacidade de entregar programas de aprendizagem formal em ambiente on-line, assim como desenvolver novas metodologias, dinâmicas e formatos capazes de estimular o processo de aquisição de novas competências em contexto de sala de aula virtual.
Do lado dos clientes, uns porventura um pouco mais do que outros, terão abraçado essa oportunidade para fazer uma aposta clara em soluções tecnológicas de aprendizagem e desenvolvimento (A&D) integradas e capazes de se ajustarem às circunstâncias específicas de cada colaborador e respetiva equipa, de modo a vencer os seus desafios mais estratégicos.

Avançou-se muito nos últimos dois anos, quer em termos de eficácia pedagógica, quer em termos de eficiência na gestão dos processos de A&D; contudo, ainda há muito para experimentar e mais ainda por onde evoluir, nomeadamente no que à adoção de práticas e de processos de aprendizagem colaborativa 100% on-line diz respeito. Temos todos muito ainda que reaprender a aprender.

Um cenário pós-pandemia poderá fazer voltar a formação a como era antes? Ou muito do que se tem construído ficará?

Na sequência do que disse anteriormente, se por um lado a pandemia acelerou definitivamente a adesão ao digital e a aprendizagem a distância, ela também mudou estruturalmente a nossa forma de colaborar e trabalhar uns com os outros. Isso creio que veio para ficar e já nada voltará a ser como dantes nesse aspeto. O digital passou a fazer parte da experiência formativa e trouxe mais graus de liberdade a quem gere orçamentos para a formação.

Ainda assim, creio que vamos assistir a um ressurgimento do presencial em contracorrente à sobre-exposição ao Zoom e demais plataformas às quais estivemos e continuaremos a estar sujeitos no futuro. O modelo híbrido terá tendência para se tornar hegemónico com uma componente experiencial que ganhará uma nova relevância no processo de (re)qualificação profissional e transformação pessoal.

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Estamos a preparar o lançamento de novos formatos digitais de entre os quais destacaria o formato MyStory – uma nova abordagem criativa e interativa, muito inspirada na forma como são produzidos alguns conteúdos para séries televisivas.

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A tecnologia tem sido um fator preponderante na formação, assim como no mundo do trabalho em geral. Que papel vê para a tecnologia no futuro da formação?

A tecnologia é e continuará a ser «o» fator que inquestionavelmente terá maior preponderância na evolução do modo de fazer e de aprender a fazer. Passamos de um paradigma cuja ênfase estava no desenvolvimento de mais e melhores estratégias de aprendizagem para um novo modelo de aprendizagem onde a aposta passou a ser a experimentação de novas tecnologias emergentes que nos desafiam a (re)aprender num contexto de máxima ambiguidade.
Se no passado, por exemplo, um operador de uma determinada indústria ia a uma ação de formação para adquirir o conhecimento necessário para manobrar um equipamento – conhecimento e equipamento esses que se mantinham mais ou menos constantes até à sua substituição por um modelo (e um curso) mais avançado, atualmente a tecnologia permite que esse equipamento vá evoluindo com atualizações constantes ao seu software, por exemplo, muitas vezes feitas remotamente e sem pré-aviso,  e são os próprios equipamentos que (in)formam quem com eles trabalha como deverá passar a operar. O desafio para quem, como nós, forma profissionais para enfrentar com eficácia e audácia os novos tempos, não será já tanto procurar atualizar atempadamente o conhecimento de quem tem de operar com essas novas tecnologias, ou até mesmo procurar competir com elas no papel de melhor instrutor/ formador, mas antes apoiar aqueles que terão de conviver com essa mudança constante a encontrar a melhor forma de interagir com essa tecnologia e assim florescer num contexto de ambiguidade absoluta e constante transformação.

Como preparam na CEGOC os próximos projetos formativos para o mercado?
Estamos a preparar o lançamento de novos formatos digitais de entre os quais destacaria o formato MyStory – uma nova abordagem criativa e interativa, muito inspirada na forma como são produzidos alguns conteúdos para séries televisivas, e que entrelaça o storytelling com o desenvolvimento de competências profissionais e que, pelo acolhimento testado junto de alguns parceiros e clientes nacionais e internacionais, julgamos que será muito bem recebido no mercado português. Paralelamente, estamos a reposicionar a nossa oferta de percursos híbridos (60% on-line e 40% off-line), que nos próximos meses iremos lançar no mercado nacional sob a marca GLC (Global Learning by Cegos), mantendo simultaneamente a aposta na criação e na divulgação de novas iniciativas e soluções de aprendizagem que privilegiem o digital e que conjugam diversos recursos on-line com classes virtuais, e-coaching e atividades práticas on-the-job personalizados de acordo com as necessidades e o contexto profissional dos participantes (4REAL).

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Ricardo Martins é diretor geral da CEGOC. Criada em dezembro de 1962, a empresa faz parte do grupo internacional CEGOS, destacando-se na transformação do desenvolvimento das pessoas nas organizações e desenvolvendo soluções de aprendizagem que potenciam a transferência do «saber» para o «fazer» e garantindo um impacto significativo e mensurável no negócio dos seus clientes. A CEGOC é a única empresa no mercado português que, sob a mesma marca, opera há mais de meio século anos em formação, consultoria, recrutamento e seleção e coaching, apostando constantemente na inovação de métodos, instrumentos e abordagens pedagógicas. Desenvolver competências, abraçar novos horizontes e liderar a mudança são razões fundamentais para sustentar o claim de intervenção da marca, «Beyond Knowledge».