Estamos na moda!

Se você é um profissional de recursos humanos (RH), já deve ter ouvido falar sobre Agilidade e sobre como ela está cada vez mais presente na sua área de atuação.

Texto: Andre Bocater Szeneszi/ Tadeu Marinho

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«Insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.» Albert Einstein

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A necessidade de mudanças rápidas para adequação e sobrevivência num mercado cada vez mais imprevisível e volátil tem atormentado a vida de executivos e profissionais do século XXI. Dinossauros apavorados, como o fundador da AB IMBEV (Budwiser, Corona, Stella Artois), Jorge Paulo Lemann, se intitulou ao perceber que o jogo mudou drasticamente, aceitaram que precisavam migrar de estruturas rígidas e com barreiras, que procuram eficiência ao extremo, para organizações mais adaptáveis e em constante aprendizagem.

Desta forma, se você é um profissional de RH já deve ter ouvido fala sobre Agilidade e como ela está cada vez mais presente na sua área de atuação. Desde a capa da HBR («Harvard Business Review») a inúmeros artigos nas maiores consultorias de gestão do mundo, como McKinsey, Bain e BCG, adaptar-se a mudanças deixou de ser moda e passou a ser uma necessidade real e imediata.

A K21, uma multinacional brasileira com atuação em diversos países pelo mundo, tem trabalhado este assunto de forma extremamente pragmática, seja em consultorias ou até mesmo nas formações com turmas abertas. Nas aulas de RH Ágil Essentials, por exemplo, costumamos abordar a importância de a área de RH tornar-se cada vez mais estratégica, assumindo o volante da transformação organizacional. Desta forma, desmistificar interpretações equivocadas ajuda a descomplicar esta jornada que não é fácil, mas é extremamente necessária.

Durante os dois dias desta formação, abordamos variados assuntos desde como a má compreensão ou interpretação errónea de alguns conceitos podem potencializar disfunções que devem ser combatidas com afinco no processo de transformação cultural. Sim, Agilidade é apenas um meio para uma mudança mais profunda no comportamento das pessoas.

Numa das nossas atividades dentro da sala de aula, virtual ou presencial,  abordamos o caso de uma revista muito bem conceituada no Brasil. Exatamente por ser um veículo de forte influência no país, não poderíamos deixar de ler com atenção o seu conteúdo. Entendendo que não foram felizes numa das suas matérias, utilizamos a sua capa numa dinâmica de grupo com o objetivo de alinhar conceitos sobre Agilidade com os nossos alunos.

Através de uma facilitação em grupo baseada na brincadeira dos sete erros, onde uma pessoa procura sete diferenças entre duas imagens praticamente iguais, pedimos aos alunos para analisarem a capa da revista e identificarem sete falsas verdades que podem ser induzidas aos leitores quando não se analisa a imagem de forma crítica.

Esta dinâmica já foi facilitada com centenas de profissionais de RH de 15 países espalhados pela Europa, pelas Américas e por África. Com a participação de pelo menos 50 profissionais portugueses, o resultado impressiona-nos sempre pela sua diversidade, sendo expostos novos pontos a cada formação que ministramos.

Para esta matéria, agrupámos as 50 induções mais relevantes e perigosas encontradas até agora para que você, leitor, possa fazer uma reflexão sobre o material que está a consumir. São as seguintes:

– Ágil é Scrum

Muitas organizações concentram-se apenas na adoção de frameworks ou métodos, esquecendo-se dos princípios e valores definidos no Manifesto Ágil criado em 2001. Desta forma, o máximo que conseguem é transportar uma forma de trabalho já existente para novos rótulos, sem focar no que realmente interessa: foco no valor de negócio, ciclos curtos e melhoria contínua. Assim, falham miseravelmente em tracionar resultados.

– Instalar os squads aqui na minha empresa?

A busca por fórmulas mágicas torna a «squadificação» numa das mais temíveis armadilhas. Replicar o modelo Spotify não resolverá os seus problemas. Inclusive, segundo Henrik Kniberg, um dos principais Agilistas, tal modelo nem existe. Como um bom leitor da «Human», você já sabe que ser Ágil é mudar a forma como pensamos, é sair de um modelo de instalação para um processo de transformação cultural.

– Animais numerados? Meus recursos preferidos!

Você já ouviu falar da campanha «Humanos sim, Recursos não!»? Não? Então visite o nosso blogue (aqui), oiça o nosso Podcast («Love the Problem», aqui), venha participar numa formação na K21 e entenda por que é que as pessoas não devem ser chamadas ou tratadas como recursos.

– Receita de transformação

Será que depois de tudo o que abordámos até agora ainda é necessário explorar os malefícios do copiar e colar uma forma de trabalho? Empresas diferentes possuem contextos diferentes e dores que devem ser resolvidas da forma adequada à situação existente. Evite adicionar mais complexidade ao trabalho complexo que já existe.

– Competição e não cooperação

Um dos principais fatores de sucesso na obtenção de resultados com o trabalho criativo é a colaboração. A cultura de apontar o dedo ao culpado transforma-se na cultura da melhoria contínua para lidar com a adversidade. Aprender faz parte do quotidiano do trabalhador do conhecimento e a colaboração é essencial para o seu desenvolvimento profissional. A responsabilidade passa a ser coletiva e o jogo, que noutras situações era competitivo, passa a ser colaborativo.

– Velocidade não é Agilidade

Uma corrida para ver quem ultrapassa mais rápido a linha de chegada? Este é um dos principais equívocos quando falamos de Agilidade, associá-la exclusivamente à velocidade. Lembrem-se de que, segundo Stephen Hawking, estamos no século da complexidade. Mas o que quer isto dizer? Quer dizer que precisamos de lidar constantemente com a imprevisibilidade e a melhor forma de fazê-lo é adaptando-se constantemente. Como definido num dos quatro valores escritos no Manifesto Ágil (ver aqui): Responder a mudanças mais do que seguir um plano.

– Cada um na sua pista, não somos uma equipa

Certamente, uma das maiores contribuições da Agilidade é justamente a adaptação.

O Manifesto Ágil traz como um dos seus princípios o foco nos indivíduos e nas suas interações, ou seja, devemos olhar além do indivíduo, contemplando o ambiente e as demais pessoas que o influenciam, ajudam e constroem produtos com este. Por isso, focar em equipas autogerenciáveis e automotivadas em vez de exclusivamente em indivíduos, passa a ser o primeiro passo para alcançar a cultura de gestão de equipas de alta performance. Logo, o nosso foco como RH deveria estar na criação de um ambiente saudável para a cooperação e não continuar a incentivar a competição individual.

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Dito isto, vamos sair das sombras da burocracia e assumir de vez o papel estratégico das organizações? O que está à espera? O que é que você está a fazer para que a sua área de RH seja considerado Ágil de verdade? O importante aqui é fazer como centenas de alunos, identificar rapidamente as armadilhas da agilidade e preocupar-se em focar no que é verdadeiramente importante, trabalhar em ciclos curtos e melhorar constantemente.

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»»»» Andre Bocater Szeneszi é sócio da K21; Tadeu Marinho é agile expert na empresa