SST

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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Creio que o célebre soneto de Camões que exalta a mudança do ser, da confiança e da esperança descreve na perfeição a razão que me levou a optar, pela primeira vez desde que contribuo para este género de publicações, a escrever este artigo de opinião na secção de Saúde e Segurança no Trabalho (SST).

Texto: Afonso Carvalho

 

Os tempos são verdadeiramente extraordinários, e são sobretudo tempos de aprendizagem e reflexão, pelo que é importante dar tempo ao tempo, uma vez que nada é certo nos dias que correm relativamente ao futuro do trabalho. Aprender e refletir é um processo que requer maturação, distanciamento e prudência, isto para não cairmos em tentações imediatistas. Não pretendo abordar as temáticas habituais que estão na génese da SST, mas sim a saúde mental e emocional dos trabalhadores. Estes dois eixos têm sido violentamente sacrificados nos últimos meses, fruto do contexto pandémico, o que deixará marcas profundas em todas as gerações que estão no ativo e nas gerações que a curto-prazo entrarão no mercado de trabalho.

Teoricamente, um local de trabalho saudável é aquele que continuamente procura melhorar a saúde, a segurança e o bem-estar dos seus trabalhadores, uma vez que isso terá como consequência a retenção, a motivação e a produtividade ambicionada. Hoje, mais do que nunca, sabemos que a forma como as empresas estão a gerir o bem-estar emocional dos seus trabalhadores, a atenção que estão a dar ao indivíduo e não ao coletivo será fator crítico de sucesso e de continuidade, pois para memória futura ficarão certamente registadas as boas e as más práticas que os líderes empresariais difundiram durante este período.

Estamos a viver momentos exigentes, em que as lideranças têm de ser transparentes, têm de ouvir e dialogar e, não menos importante, têm de proporcionar uma sensação de calma e de estabilidade. A verdade é que as competências que se exigem hoje aos líderes não são, na sua essência, muito diferentes do padrão típico que sempre foi essencial a uma boa liderança, mas o problema é que no contexto atual não dominá-las e não as colocar em prática compromete seriamente a estabilidade emocional e psicológica dos trabalhadores, gera receios, medos e angústias, e tudo isto leva ao esgotamento.

A saúde e a segurança dos trabalhadores passam e passarão cada vez mais pela humanização do local de trabalho, pelo investimento e pela prioridade que é dada a estes temas, garantindo assim que potenciais perturbações psicológicas são detetadas a tempo, e caso não sejam, que pelo menos são corrigidas o mais rápido possível. Este tipo de doenças, de alterações comportamentais e de atitudes são demasiado silenciosas, portanto todo o cuidado e toda a atenção nunca são demais.

Locais de trabalho saudáveis e seguros passarão cada vez mais pela promoção e pelo investimento em vigilância precoce, em recursos capazes, devidamente formados e dedicados à natureza destes problemas. Se no topo da pirâmide as empresas ambicionam altos níveis de competitividade, produtividade, motivação, compromisso e propósito, tal nunca acontecerá sem a base da pirâmide. Base essa que é invariavelmente edificada na saúde psicológica, emocional e no bem-estar de cada indivíduo, de cada trabalhador. Cuidar e investir na base é maximizar o retorno no topo da pirâmide. Tenho consciência de que por estes dias o cumprimento da regra de afastamento social é crucial, mas dado o que escrevi atrevo-me a dizer stay safe, stay close.

 

 

»»»» Afonso Carvalho é chief executive officer (CEO) do Grupo EGOR

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