Ricardo Machado

«A retenção do talento é uma das nossas prioridades.»

O diretor de recursos humanos da Altran fala de uma instituição que tem atualmente mais de 2.000 profissionais a trabalhar em Portugal, cerca de 1.200 no mercado local e 800 no mercado internacional desde cá, para países como França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos. Diz que a retenção do talento é uma das prioridades, destacando que no mercado tecnológico há uma grande pressão para atrair e reter, e que o salário não é o único fator de decisão.

Texto: Redação «human» Foto: DeF

 

 

Que competências procura a Altran atualmente? No caso da atividade em Portugal, há algumas especificidades?

Procuramos perfis que sejam ajustados às nossas atividades atuais e futuras, como engenheiros informáticos, de telecomunicações, eletrónica ou aeronáutica e em outras áreas de engenharias que permitam endereçar o futuro da tecnologia. No entanto, temos vindo a reconverter perfis de engenharia mais tradicionais, matemática e biomédica. No fundo, valorizamos bastante todas as formações que tenham uma base sólida de analítica e de raciocínio lógico. Valorizamos muito as soft skills, o comportamento, o compromisso, a personalidade e todas as competências que ajudem os profissionais a adaptarem-se constantemente às exigências e à pressão do mundo do trabalho. Paralelamente, temos vindo a integrar nos nossos projetos pessoas de áreas de letras, teatro – e que passam pelas nossas academias de reconversão de competências.

Em Portugal, temos como objetivo formar profissionais de elevada qualidade técnica, mas também comportamental e pessoal. Além disso, a personalidade dos candidatos portugueses tende a ser de resiliência perante os desafios e obstáculos. Num mundo tecnológico em que a resposta nem sempre é evidente, temos que pensar fora da caixa para encontrar alternativas, e é precisamente esta atitude que esperamos dos nossos colaboradores.

Que desafios pode um profissional esperar na instituição?

Num mercado vincado pela constante evolução tecnológica, o maior desafio é, sem dúvida, a adaptação dos profissionais às ferramentas, aos processos e às transformações do sector, permitindo-lhes responder eficazmente às necessidades dos clientes e antecipar futuras tendências.

O ADN da Altran está muito ligado à investigação e à inovação, uma inspiração que nos move e dá o propósito a tudo o que fazemos. Por isso, desafiamos os nossos colaboradores a explorarem e a diariamente encontrarem respostas e soluções para os problemas de hoje e de amanhã.

Ao mesmo tempo, damos valor ao compromisso, à motivação, à formação e tentamos sempre privilegiar o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional. Só assim se consegue criar profissionais e equipas de excelência preparados para apresentar soluções tecnológicas absolutamente diferenciadoras. Queremos, acima de tudo, que os nossos profissionais evoluam na Altran em termos pessoais, de carreira e de conhecimento.

Pelos sectores em que atuam, privilegiam de alguma forma gerações mais jovens?

A Altran atua em todos os sectores de atividade, em que o mais importante são as competências e as atitudes dos nossos profissionais para o desenvolvimento de soluções e a execução dos projetos dos nossos clientes. Assim sendo, é tão importante a requalificação de competências dos jovens como de profissionais com mais de 35 anos.

Que oferta tem a Altran para o mercado e como suporta essa oferta em termos de recursos humanos?

A Altran colabora com as principais empresas de diferentes sectores de atividade, para que atinjam os seus objetivos de negócio, através de desenvolvimento de software e novas tecnologias e através de investigação e desenvolvimento. Dispomos, assim, de soluções integradas e parcerias que potenciem as competências dos nossos clientes nas áreas mais inovadoras.

Temo-nos focado na captação de talento acabado de formar e, ao mesmo tempo, na transformação de competências, de forma a reatualizar alguns conhecimentos dos nossos colaboradores mais seniores. Apostamos, por exemplo, no desenvolvimento de parcerias com as instituições de ensino superior no sentido de ajustar os conteúdos formativos ao nível dos TeSP, os Cursos Técnicos Superiores Profissionais, que dão uma base muito importante para integrar o profissional no mercado de trabalho. Apostamos também em academias internas, de forma a dotar e/ ou reconverter competências dos nossos profissionais, em que através de formações intensivas ajudamos a aumentar as suas competências. Em 2018 realizámos oito academias internas, cada uma com cerca de 20 pessoas, com o objetivo de dotar e reconverter profissionalmente profissionais vindos de outras áreas.

Enquanto multinacional com soluções personalizadas quer locais quer internacionais, conseguimos dar resposta às necessidades, aos desafios, através da experiência adquirida com os diversos projetos de R&D [investigação e desenvolvimento] e parcerias tecnológicas.

O que tem levado a que as contratações em Portugal tenham chegado a números bastante elevados?

A Altran tem atualmente mais de 2.000 profissionais a trabalhar em Portugal. Cerca de 1.200 trabalham no mercado local e 800 no mercado internacional desde Portugal, para países como França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos. As contratações mais recentes têm reforçado, sobretudo, os centros de engenharia instalados em Vila Nova de Gaia (que abriu portas em 2016) e no Fundão, onde atualmente trabalham, respetivamente, cerca de 350 e 450 pessoas.

Trata-se de um mercado muito competitivo, onde há uma grande procura pelas competências e, à medida que a concorrência aumenta, a oferta educativa portuguesa tem espaço para formar mais profissionais. O mercado apresenta uma vasta oferta e desde logo absorve os profissionais que saem dos cursos relacionados com as tecnologias de informação e comunicação (TIC) e engenharia de uma forma genérica. São profissionais altamente qualificados e com elevadas competências ao nível do desenvolvimento e da inovação tecnológica. Ao mesmo tempo, o nosso país tem vindo a consolidar significativamente a sua posição enquanto plataforma tecnológica e para acolhimento de centros de desenvolvimento de software e de tecnologia que apoie esses mesmos centros, pelo que a pressão no mercado tem vindo a aumentar.

Como procuram as pessoas de que precisam e que iniciativas promovem para atraí-las?

Para além dos eventos de recrutamento, em que temos apostado num formato sempre muito disruptivo, como por exemplo a bordo de um barco ou na praia, realizámos em novembro um evento de recrutamento com foco na área de Telecom & Media, nas instalações da Altran, em Lisboa, com a parceria da Tesla e da Fundação Portuguesa das Comunicações – que trouxe uma exposição da evolução das comunicações – e ainda a participação de José Pedro Cobra, orador conhecido das conferências TEDx.

Temos também em curso a campanha interna «Proud2BAltran», que demonstra a visão, na primeira pessoa, do dia-a-dia de todos os que contribuem para o sucesso da empresa. Selecionámos um grupo de 50 colaboradores que representassem as diferentes vozes da empresa de forma transversal, através do formato de vídeo, divulgado nas nossas redes sociais Facebook e LinkedIn. A filosofia assenta sempre no sentimento de pertença que todos demonstraram ao longo das filmagens. Através desta campanha, conseguimos não só potenciar a motivação das equipas e o sentimento de pertença pela empresa, como também demonstrar, de forma externa e na primeira pessoa, os nossos talentos e valores que nos caracterizam.

A retenção preocupa-vos, sobretudo pela concorrência em mercados profissionais mais ligados às novas tecnologias?

A retenção do talento é uma das nossas prioridades, sim. No mercado tecnológico há uma grande pressão para atrair e reter as nossas pessoas, em que o salário não é o único fator de decisão. Nesse sentido, temos vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas internas, que visam a autonomia, o bem-estar e o equilíbrio entre a vida pessoal e vida profissional. No entanto, o maior desafio na retenção é garantir que o que é entregue através de Portugal tenha a qualidade reconhecida internacionalmente que permita manter este momento para o futuro e desta forma continuar a disponibilizar aos nossos profissionais desafios inovadores.

O que significa para si gerir pessoas numa empresa como a Altran?

Os profissionais da Altran não são vistos apenas como pessoas, mas sim como apaixonados pela inovação, exatamente porque o que nos distingue é a capacidade de inovar, de ir mais além pelos projetos em que estamos envolvidos. Numa organização composta por tantas pessoas, damos prioridade ao desenvolvimento, seja das competências e dos conhecimentos, seja das necessidades pessoais de todos. O que mais nos distingue é o facto de encorajarmos os nossos colaboradores a construírem a própria carreira, para que cresçam connosco. Ao mesmo tempo, temos uma política de mobilidade totalmente aberta, na qual os colaboradores se podem candidatar a qualquer posição para que sintam que estão preparados. É, sem dúvida, uma das iniciativas que permite aos colaboradores crescerem connosco. Estas experiências que as novas funções trazem, em paralelo com o envolvimento dos colaboradores, são certamente âncoras da nossa organização.

A tecnologia e a constante inovação têm vindo a alterar significativamente o seu trabalho?

Sim, sem dúvida. As novas tecnologias e a automatização dos processos afetam o dia-a-dia do nosso trabalho. Atualmente, praticamente todo o ciclo de vida de um colaborador na Altran é digital. Desde a entrada, férias, inquéritos de satisfação, avaliação, alocação a projetos, entre outros. A mais recente fase, que destaco, é a assinatura digital dos documentos, que nos permitirá eliminar a breve prazo algumas das ações ainda suportadas em formato de papel. Na equipa de recursos humanos, apesar da automatização dos processos, a pessoa ainda tem um papel fundamental. Já aconteceu termos pessoas que nos algoritmos não tínhamos expectativas muito grandes e que acabaram por se revelar profissionais excecionais.

Como perspetiva os próximos cinco anos na gestão das pessoas?

Os próximos anos serão muito desafiantes ao nível da revolução tecnológica, da automatização de atividades e processos, dados e análises inteligentes e para a gestão de talentos e a estratégia de negócios das empresas.

A área de recursos humanos já está a passar por muitas alterações e acredito que irá passar ainda por mais, com o objetivo de se aproximar cada vez mais no negócio da empresa. O desafio será preparar devidamente os gestores e as equipas, criando um ambiente de colaboração e compromisso, com recurso à gestão de dados, e construindo uma cultura forte que capacite os profissionais para o uso de novas tecnologias. Seja pela utilização de técnicas de gamification, recrutamento digital, utilização de plataformas interativas on-line, o maior desafio será reter os melhores talentos. E isso só é possível se as organizações oferecerem um pacote completo aos seus colaboradores e reconhecerem os seus objetivos e as suas concretizações pessoais e profissionais.

 

 

»»» Ricardo Machado, é diretor de recursos humanos da Altran Portugal, onde está desde 2006. Começou nas funções de system architect, tendo passado em 2008 a business manager nas áreas de Health Science & Media. Em 2010 assumiu funções no sector financeiro e em 2011 transitou para o cargo de diretor da unidade de financial services (Banca e Seguros), tendo-se tornado ainda membro do Steering Commitee de Financial Services and Government Global da Altran. No início de 2017 passou a ser diretor de recursos humanos da empresa.

A Altran é uma empresa global de consultoria de engenharia e investigação e desenvolvimento (ER&D), focando-se na conceção de produtos e serviços à medida das necessidades dos clientes. Neste sentido, acompanha os clientes em cada etapa do projeto, desde o planeamento estratégico à fase de produção. Há mais de 30 anos no mercado global, capitaliza a experiência e o know-how em sectores chave, como Aerospace, Automotive, Defence, Energy, Finance, Life Sciences, Railway e Telecom. Com mais de 45 mil colaboradores e presente em mais de 30 países, está no mercado português desde 1998. Tem Portugal mais de 2.000 colaboradores e três escritórios, no Porto, em Lisboa e no Fundão.

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