O passado e o futuro consomem, de forma inconsciente, grande parte do tempo de trabalho nas empresas. Trata-se de tempo não produtivo, dificilmente contabilizável e gerador de elevados níveis de stress e ansiedade.
Por Inês S. Ribeiro
Ora vejamos… Quanto tempo é despendido nas empresas a remoer problemas do passado, alimentando emoções negativas ao invés de nos focarmos na solução e nas aprendizagens que podemos extrair? Quanto tempo despendemos antecipando problemas e dificuldades futuras ao invés de nos centrarmos nos elementos que podemos controlar no sentido de aumentar a probabilidade de sucesso?
Ou seja, gastamos tempo e recursos cognitivos a pensar em situações que ocorreram no passado e que nos deixaram insatisfeitos, frequentemente não expressando abertamente aquilo que sentimos face à situação, e isto acarreta consequência em dois níveis: ao nível individual e na nossa relação com os outros. Por um lado, este foco nos problemas gera uma sensação de impotência, irritação e zanga, um aumento do cortisol e do stress. Por outro lado, o facto de não expressarmos o que sentimos aos outros, mas continuarmos a remoer os problemas do passado influencia a forma como agimos e reagimos face aos outros e alimenta padrões de comportamento desajustados. Por exemplo, quando um colaborador considera injusta uma decisão do chefe e não o expressa, esse colaborador tende a ficar irritado, desmotivado, menos produtivo, e o chefe, por não compreender as razões subjacentes às atitudes do colaborador, tende frequentemente a repetir a ação e/ ou a interpretar erroneamente o comportamento do colaborador.
À semelhança do foco no passado, também o foco no futuro leva frequentemente a perdas de produtividade nas empresas. Face a situações de incerteza, situações que se afiguram difíceis ou penosas, tendemos a sentir que não temos os recursos necessários para lidar com a situação, o que gera stress e ansiedade. Assim, surge a dificuldade de os colaboradores se focarem nas suas tarefas, bem como um sentimento de desorientação e problemas de memória. Por exemplo, se for entregue a um colaborador uma tarefa nova, difícil e importante, com um prazo apertado, sem que lhe seja oferecido o suporte necessário para a realização da mesma, o colaborador tende a focar-se na antecipação do fracasso e a ansiedade pode conduzi-lo à procrastinação.
Deste modo, tanto o foco no passado como o foco no futuro contribuem para o presentismo, ou seja, o colaborador está presente no seu posto de trabalho, mas não é produtivo.
Bem-estar físico e psicológico e aumento da produtividade
Uma poderosa prática para o bem-estar físico e psicológico do colaborador, bem como para o aumento da produtividade nas empresas é o mindfulness. O mindfulness implica o foco no presente, sem julgamento, aceitando e aprendendo com o passado e preparando ativamente o futuro. Trata-se de uma forma de atenção plena que implica que vivenciemos o momento sem sermos absorvidos por ele, o que requer que desliguemos o piloto automático e nos foquemos conscientemente no presente.
Michael Chaskalson (2011) refere que com a implementação da prática de mindfulness no trabalho é possível reduzir os níveis de stress, aumentar a sensibilidade face aos outros e a empatia, melhorar a comunicação interpessoal, aumentar a inteligência emocional, reduzir o absentismo, aumentar a consciência de si e do outro, aumentar os níveis de resiliência, aumentar a produtividade e melhorar os padrões de sono.
Trata-se de um exercício que requer prática, mas cujo treino se encontra ao alcance de qualquer um.
Mindfulness no trabalho
Deixo a seguir algumas sugestões para introduzir o mindfulness no seu trabalho.
– Lembre-se de respirar. Inspire profundamente expandindo o diafragma e expire como se estivesse a soprar uma vela. Repita esta respiração profunda no mínimo três vezes.
– Levante-se e faça pausas regulares. Se possível, caminhe um pouco, não muito devagar nem demasiado depressa. Experimente observar os movimentos e os ritmos do seu corpo.
– Antes de tomar decisões importantes, certifique-se de que o seu estado psicológico incorpora os três cês: claro, calmo e confiante (Cheryl Amyx, 2018). Caso não tenha clareza sobre o assunto e não se sinta calmo ou confiante, procure observar a decisão por outros pontos de vista.
– Procure planear antecipadamente o seu trabalho e estabelecer prioridades. Reserve tempo para imprevistos.
– Experimente estar atento às pequenas coisas. Procure estar atento aos seus passos quando caminhar, à forma como o seu pé toca no chão, à brisa que corre. Pode fazê-lo por exemplo entre uma reunião e outra e verá que estes pequenos momentos são verdadeiramente rejuvenescedores.
– Experimente a meditação guiada por alguns minutos, por exemplo com recurso a um guia ou a uma aplicação móvel, e incorpore-a no seu planeamento diário ou semanal. Ao início meditar pode parecer difícil, mas acredite é uma questão de treino e disciplina.
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Em Portugal são cada vez mais as empresas, especialmente multinacionais, que já incorporam nos seus programas corporativos atividades de desenvolvimento de uma atitude mindful, como sucedeu recentemente com uma das maiores multinacionais presentes no nosso país, líder no sector de atividade em que atua, no decorrer de um programa imersivo que realizou numa aldeia do interior do país e no qual tive o prazer de colaborar, através da aplicação e da observação do impacto da meditação no bem-estar, no equilíbrio e no relacionamento interpessoal, com efeito no reforço do desempenho e da produtividade.
»»» Inês S. Ribeiro (na foto) é manager da Paradoxo Humano, uma consultora que teve na base da sua constituição a firme convicção de que é mais eficaz abordar a gestão e o desenvolvimento das empresas e das pessoas através de soluções e ferramentas co-construídas com os clientes. Nos primeiros 10 anos, implantou-se como uma marca respeitada no mercado e viu os seus negócios crescerem de forma sustentada, por ter-se focado apenas nas áreas em que é reconhecida e para as quais está vocacionada: consultoria de recursos humanos, recrutamento e seleção e formação e aprendizagem. Com quase duas décadas de existência, orgulha-se do que fez no passado e sente que os valores que alicerçam a sua identidade continuarão a sustentar a enorme confiança que tem no futuro.