A diretora de recursos humanos da ITSector explica como é feita a gestão do talento na tecnológica que tem sede no Porto e já se internacionalizou. Para Maria Inês Domingues, apesar da evolução da tecnologia, o grande desfaio está, e estará, na gestão das pessoas.
Por Francisca Rodrigues
O que é mais importante na gestão do talento na ITSector?
A gestão de talento tem sido um desafio nesta era de transformação digital, e um desafio constante na área das tecnologias, dada a escassez de recursos para as necessidades do mercado. Na ITSector preocupamo-nos com a retenção do talento, e isso passa obviamente, em primeiro lugar, por reconhecer e conhecer o talento da organização, para que possamos geri-lo. Procuramos gerir este talento de acordo com as suas motivações, os skills e os interesses e as ambições, de forma equilibrada e também de acordo com as reais necessidades da empresa no terreno. Tentamos estar sempre próximos dos colaboradores, ouvir quem está no terreno…
Apostam numa cultura de proximidade…
Sim. Consideramos que a cultura de proximidade é um fator diferenciador. Permite que as pessoas sejam e se sintam parte integrante da empresa, e que a defendam como se fosse sua. Mas todos os talentos precisam de desafios e de feedback contínuo, e é neste tipo de premissas que construímos as nossas iniciativas de gestão estratégica de recursos humanos.
Quantas pessoas têm?
A IT Sector conta com mais de 350 colaboradores e com alguns recursos por via de subcontratação. Mas com a dinâmica do mercado e a nossa perspetiva de crescimento contamos ser mais de 400 até ao final deste semestre.
Destaca algumas práticas em termos de atração e retenção do capital humano?
Delineámos um plano estratégico de atração e retenção de talento que passa pelo seguinte: kits de acolhimento e integração, happy hours uma sexta-feira por mês, investimento na formação e no acompanhamento individualizado das pessoas, promoção de iniciativas solidárias, eventos desportivos… E estamos realmente recetivos às ideias e sugestões de colaboradores, promovendo e valorizando aquilo que cada um pensa.
Como olha para o vosso sector em termos daquilo que é oferecido aos colaboradores?
No mercado em que atuamos as condições de trabalho acabam por não ser um fator diferenciador em termos de atração e retenção de talento, pois o pacote de benefits acaba por ser cada vez mais muito semelhante nas empresas de tecnologia, pois o mercado assim o permite e, mais, assim o exige. O que cada vez mais vai distinguir as empresas é a sua cultura organizacional e a dinâmica de trabalho, ou seja, as pessoas que constituem a empresa e a forma como esta comunica a cultura e a dinâmica internamente e para o exterior.
Têm tudo isso em conta na ITSector…
Queremos reter as pessoas não só com packages atrativos, com kits de acolhimento e integração, mas também pelo acompanhamento individualizado. Passa também pelo investimento em formação e pela responsabilidade e pela autonomia que podem alcançar e que queremos proporcionar. É nesta visão que nos posicionamos, uma visão em que há sinergias no delinear da estratégia da empresa, sinergias muito fortes entre as vertentes comercial, de marketing, de recursos humanos e de administração da ITSector.
Qual é a maior dificuldade que encontram na retenção dos talentos?
A competitividade que se vive neste sector faz com que os colaboradores sejam constantemente abordados, mas tentamos que eles efetivamente se sintam tão bem a todos os níveis que não necessitem de outras experiências. Mas sabemos que o mercado atual, como hoje o conhecemos, é muito diferente do mercado de trabalho de há algumas décadas, em que as pessoas tinham um emprego para a vida. O desafio também passa por gerir este fenómeno de rotatividade nas organizações – o turnover, que nesta área, em Portugal, é efetivamente alto.
Quantas pessoas saíram para outras empresas, e quantas contrataram noutras empresas?
Temos um turnover inferior à média das empresas de TI [tecnologias de informação] em Portugal, mas sabemos que é um fenómeno da atualidade e do futuro.
Como olha para o futuro, a partir da realidade da sua empresa e da sua carreira?
As organizações têm, atualmente e no futuro, um grande desafio, dada a evolução, considerada por muitos desmedida, que se vive, também em termos tecnológicos, mas o maior desafio ainda continua ser a gestão das pessoas. Das pessoas que contratamos, das que evoluem e daquelas que se sentem estagnadas, das pessoas motivadas e das pessoas desmotivadas, das pessoas muito faladoras e das mais silenciosas, das pessoas com mais visibilidade e das que têm menos visibilidade, das mais ambiciosas e das menos ambiciosas, das pessoas que tiveram mais oportunidades e das que tiveram menos, das pessoas que agarraram a oportunidade quando ela apareceu e das que deixaram a oportunidade passar, das que têm esperança e acreditam e lutam e daquelas que nem tanto, das que lideram outras pessoas e das que são lideradas e daquelas pessoas que compram e também das pessoas que vendem… Mas será sempre gestão de pessoas, está aí o grande desafio.
»»» Maria Inês Domingues é diretora de recursos humanos da ITSector, que tem sede no Porto. Tecnológica especializada no desenvolvimento de software orientado para o sector financeiro, destacou-se no desenvolvimento de software em regime de nearshore, ao qual tem afetos mais de 100 colaboradores, responsáveis pela implementação, no último ano, de mais de 200 projetos – em geografias tão diversas como Inglaterra, França, Luxemburgo, Espanha, Itália, Rússia, Islândia, Alemanha, Dinamarca, Timor-Leste, Quénia e África do Sul. Com a aposta no trabalho em regime nearshore, tem vindo a crescer a partir do Porto para outras localizações geográficas, onde abriu centros de tecnologias avançadas. Está por isso presente em Portugal, na Polónia, no Reino Unido, em Angola, em Moçambique e no Quénia, contando atualmente com um universo de 350 colaboradores e prevendo ultrapassar os 400 até ao final do primeiro semestre deste ano.