Aprender e treinar são coisas diferentes

Urge que quem lidera/ treina pessoas e equipas, através de constante orientação e aconselhamento (coaching), «alimente» um grande entusiasmo e uma grande paixão pela aprendizagem, pelo treino e pela melhoria contínua.

Por Jorge Araújo

 

Quais «escultores» ou «jardineiros», exige-se àqueles que lideram que «lapidem» ou «reguem» o potencial daqueles com quem trabalham, criando climas de trabalho bem mais potenciadores da imaginação, da criatividade e da inovação. E, principalmente, menos racionais e mais incentivadores do que é emocional e espiritual.

É por isso fundamental que a empresa (ou o clube) sejam locais fomentadores de atitudes e comportamentos positivos. Onde se aumente a autoestima dos respetivos colaboradores ou jogadores, habilitando-os para enfrentarem as dificuldades como oportunidades. E para se desenvolverem e afirmarem, tal como a perderem os medos e a vencerem as ansiedades provocadas pelo receio de errar e de falhar.

Todos os colaboradores de uma empresa ou jogadores de um clube possuem um enorme potencial que exige ensino e treino modulados através de diversificadas experiências enriquecedoras dessas capacidades naturais.

Isto «obriga» quem lidera empresas ou clubes a adaptar e flexibilizar a sua forma de pensar e intervir, adquirindo uma atitude e um comportamento constantemente positivos. Que ajude os seus colaboradores a focarem as suas energias (mental, física, emocional, social e espiritual) nos objetivos da empresa ou do clube e no sentido e nos objetivos de vida que pretendam concretizar. Tal como criando à sua volta um clima de trabalho onde dominem a ambição e a paixão por aquilo que se tem de fazer, aumentando por essa via o empenho respetivo dos colaboradores ou dos jogadores e a sua capacidade constante para se superarem.

Ensinar e treinar quadros de empresa tem de ser, por essa razão, um processo ativo, lúdico, atrativo, capaz de mobilizar a motivação, a participação e a responsabilização dos colaboradores ou dos jogadores.

Crescemos muito dependentes das experiências que nos vão proporcionando e aprendemos na direta proporção dos estímulos, dos incentivos e dos exemplos que nos forem presentes.

Mas não só. Também porque o nosso cérebro está sempre a aprender e o ser humano está otimizado para a aprendizagem.

Os ambientes formativos, proporcionadores de maiores desafios e incentivadores de exercícios físicos, mentais, emocionais, sociais e espirituais naturalmente diversificados, dão origem a mais e maiores conexões neuronais no cérebro, favorecendo por essa via a melhoria gradativa da inteligência.

Aprendemos melhor através de repetição, imagens visuais, por imitação. E também fixamos mais e melhor na nossa memória todos aqueles ensinamentos que nos foram proporcionados de forma emocionalmente impressiva.

O meio ambiente em que se integra o ensino e o treino dos quadros de empresa ou os jogadores do clube deve assim utilizar o erro e o feedback respetivo, como motivos de reflexões acerca do que foi feito (como e por quê) e meios importantes de aprendizagem.

E atenção!…

Existe uma clara diferença entre aprender e treinar.

Quando aprendemos, criamos novas redes neuronais, experimentando o que é novo através da observação e da tentativa de reproduzir o que nos foi proposto.

Quando treinamos, reforçamos e reativamos circuitos de memória já existentes, para que em breve se tornem automáticos e não requeiram que neles pensemos de forma consciente.

A aprendizagem e o treino exigem mobilização da atenção e da motivação, tal como uma correta gestão inicial de expectativas e do que vai ser exigido. E os resultados que vão sendo alcançados constituem um meio poderoso de reforço da confiança e da autoestima.

O processo de aprendizagem exige que, em simultâneo, o iniciemos através de pequenos sucessos, com a presença de quem facilite a reflexão sobre o que foi feito e dê feedback, consoante as necessidades.

A cada passo deste processo é fundamental ir sabendo como estão as coisas a correr, o que estamos a fazer bem ou mal, como podemos melhorar. E também perceber que, mais do que uma questão de ouvir ou ler, aprender de forma evolutiva significa aprender a fazer, fazendo.

Em tudo o que respeita ao treino de quadros nas empresas, estamos perante uma realidade que suscita a necessidade de treinadores emocionalmente convincentes e inteligentes, capazes de criarem uma cultura de aprendizagem inclusiva. Verdadeiros especialistas em tudo o que se refira a comunicação com impacto, empatia, resolução de problemas e conflitos, liderança inspiradora e mobilizadora da motivação, autoconfiança e pessoas confiáveis, flexibilidade perante a mudança, gestão do inesperado, dar feedback.

Tudo isto exige que tais treinadores passem por uma preparação intensa e rigorosa, pois ninguém nasce com tais capacidades desenvolvidas ao ponto que as respetivas necessidades educativas e formativas justificam. Aquilo que tem de distingui-los é a respetiva autopreparação e o treino intensivo a que se dedicaram ao longo de, no mínimo, uma década. Numa quantidade (volume de horas) e numa qualidade (intensidade, rigor, exigência) reforçadas com a presença constante de quem os incentive e apoie, que lhes exija e os pressione sempre que necessário e avalie o respetivo desempenho de forma continuada, honesta e frontal.

Alguém que, em devido tempo, os retire da zona de conforto em que tendiam a refugiar-se e lhes coloque novos desafios e facilite as reflexões necessárias acerca dos erros cometidos e dos aspetos em que necessitavam de melhorar.

Ninguém percorre sozinho o caminho da excelência, pois necessitamos de quem nos encoraje e critique no momento certo, tendo em vista a melhoria contínua pretendida. Precisamos de quem nos ajude a desenvolver uma fundamental paixão por aquilo que pretendemos conquistar. Nos reconheça, apoie e incentive como meios decisivos para a mobilização da motivação intrínseca de que carecemos para nos fazer mover no sentido da excelência e ajudar a refletir e a perceber como se faz melhor e mais rápido.

 

>>> Jorge Araújo, ex-treinador de basquetebol (treinou o Futebol Clube do Porto e a Ovarense, chegando a campeão nacional, e foi selecionador de Portugal), fundou há duas décadas no Porto a Team Work Consultores, de que é presidente. Concebida como empresa de consultoria na área de desenvolvimento de pessoas e equipas, a Team Work tem tido por base a experiência de Jorge Araújo enquanto treinador de equipas de alto rendimento. Introduziu no mercado uma metodologia de formação de quadros de empresas baseada no treino desportivo e procura promover uma relação de parceria junto de diferentes entidades que reconhecem a formação como uma importante componente da sua estratégia global, para a melhoria das competências e da competitividade, que assegurem o sucesso dos resultados. Sob o lema «treinar como se joga», tem como missão «desenvolver pessoas e equipas, através do treino e da consultoria, contribuindo para organizações mais inovadoras e competitivas», isto com o objetivo de «ser a empresa mais admirada no desenvolvimento de pessoas e equipas, tendo sempre em consideração os próprios valores».