Lurdes Morais: «Há um longo caminho a percorrer para a igualdade de género.»

Lurdes Morais, partner do Grupo CH

O Grupo CH integrou como entidade consultora o «LGE – Local Gender Equality», projeto no âmbito da igualdade de género promovido pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/ UC) e desenvolvido em parceria com as autarquias de Ferreira do Alentejo, Lagoa, Mangualde, Pombal e Póvoa de Lanhoso e o Centre for Gender Research da Universidade de Oslo. Lurdes Morais, partner da instituição e coordenadora geral do projeto, fala sobre esta experiência.

Por António Manuel Venda

 

Que análise faz da igualdade de género em Portugal?

Avançámos muito, mas ainda há um longo caminho a percorrer para uma verdadeira igualdade de género, na visibilidade, no poder e na participação de homens e mulheres, quer na esfera profissional, quer na familiar. Contudo, no mundo organizacional estas questões começam a ser encaradas numa perspetiva de competitividade, pois contribuem para o aumento da produtividade e do bem-estar das pessoas. Tem havido um esforço de sensibilização e definição de políticas e prioridades de intervenção, mas que não se revelam suficientes para fazer face a disparidades como o gap salarial ou a sub-representação de mulheres em lugares de chefia, particularmente em grandes empresas.

E no sector público?

Também aí esta desigualdade existe, e os números são bastante ilustrativos. Ao nível do poder local, foco principal neste projeto, importa perceber que as mulheres presidem a apenas 23 das 308 câmaras do país e que no total nacional a percentagem de mulheres eleitas para liderar executivos municipais é de 7,46%. Nota-se uma evolução positiva, mas estamos ainda distantes de uma situação ideal de igualdade.

Por que escolheram no projeto trabalhar com comunidades locais, nomeadamente autarquias?

A desigualdade de género em todas as esferas está na génese das disparidades económicas e sociais que caracterizam sociedades injustas e desequilibradas. As estruturas locais desempenham um papel essencial na redução das desigualdades, assumindo uma dupla responsabilidade: como entidades empregadoras e pela sua relação de proximidade com as populações. Neste sentido, é necessário uma outra forma de fazer política ao nível local, que integre a perspetiva da igualdade de género de modo transversal a todas as áreas da intervenção política e pública. O envolvimento da administração local no combate às desigualdades entre mulheres e homens é indispensável à territorialização das políticas. Cerca de 130 municípios já elaboraram ou estão a elaborar planos municipais para a igualdade, mas não é conhecido o seu impacto no território. Apenas 117 subscreveram a «Carta Europeia para a Igualdade das Mulheres e dos Homens na Vida Local». E apenas 39 receberam este ano o galardão de «Autarquia Familiarmente Responsável», pelas políticas de apoio económico e conciliação entre esferas da vida.

Há portanto muito a fazer…

Mais de metade dos municípios ainda não possuem mecanismos de promoção de igualdade de género, não visibilizam políticas de conciliação trabalho/ família nem têm demonstrado que essa possa ser uma prioridade da sua atuação. Daí que a construção de metodologias e instrumentos para a sexualização de políticas, processos e práticas a nível local seja uma componente essencial deste projeto. Entendemos que os outputs do projeto serão facilitadores da mudança.

Que objetivos traçaram para este trabalho?

Os principais foram conceber, experimentar e validar instrumentos com as autarquias parceiras e os seus stakeholders nos vários domínios de atuação territorial: Urbanismo, Habitação e Ambiente; Educação, Saúde e Ação Social; Cultura, Desporto, Juventude e Lazer; Gestão de Pessoas, Formação e Emprego; Comunicação e Cidadania Participativa; Mobilidade e Segurança… Muitas vezes, nem todos são associados a questões de igualdade de género, como o Urbanismo e a Segurança. Procurámos promover uma reflexão conjunta sobre a mudança social desejada no âmbito da igualdade de género, combatendo as injustiças observadas; e também disseminar e partilhar resultados e instrumentos do projeto por todas as autarquias e inspirar, motivar e facilitar a mudança neste âmbito.

 

 

Lurdes Morais é partner do Grupo CH. Com sede em Coimbra, é um grupo português de consultoria com operações à escala mundial e uma oferta global de serviços integrados, multissectoriais e altamente especializados. Tem mais de uma centena de reconhecimentos nacionais e internacionais e uma carteira de clientes muito diferenciada, operando desde PME (pequenas e médias empresas) a destacadas companhias multinacionais. É constituído por cinco empresas: CH Business Consulting, especialista em consultoria de gestão de pessoas e organizações; CH Academy, que aposta na formação e desenvolvimento de pessoas; KWL, direcionada para a implementação de sistemas de gestão; Monstros & Cia, agência de comunicação e design;  e Burocratik, especializada em webdesign e branding.