Sérgio Almeida
«O mundo do trabalho está em clara evolução.»

Sérgio Almeida, o chief executive officer (CEO) do SEAL Group, é ao mesmo tempo diretor para Portugal da ANE International – Academy of Neuroscience and Education, que está baseada na Alemanha. Falámos com ele em Düsseldorf, à margem dos trabalhos do «Fórum Internacional de Ciência – The Best of Neuroscience 2017», no final do ano passado.

Texto: Redação Human

 

Que balanço faz deste evento?

Este evento revelou uma vez mais o que de melhor se faz sobre as neurociências no mundo, sobretudo numa perspetiva prática e aplicável à sociedade em geral, às organizações e aos indivíduos. É o terceiro ano consecutivo em que estou presente, e sempre levo comigo este ambiente incrível à volta da investigação e da ciência, a paixão pelo conhecimento e as mais recentes descobertas sobre esse mundo extraordinário que é o cérebro humano. A nível pessoal é também uma altura de rever colegas e amigos de toda a Europa. Profissionalmente permite-me evoluir e crescer com os melhores. O balanço não poderia ser mais positivo.

 

Como lhe parece a adequação do tema das neurociências ao mundo das empresas?

Numa altura em que as empresas lutam pela captação e pela retenção do talento, em que tanto se fala da industria 4.0, as neurociências e a sua aplicação prática no mundo das organizações não só me parece adequada como estou certo de que será o futuro. O desenvolvimento humano baseado no conhecimento e na ciência é o next level. Hoje somos todos mais exigentes, temos acesso a imensa informação e a variadíssimas experiências; os estudos mais recentes provam que para as empresas mais conscientes já não é suficiente desenvolver programas que lhes digam «que é muito importante motivar as equipas», realizar a tradicional formação ou as habituais dinâmicas de team building. Tudo isto é importante, mas sobretudo quando lhe juntamos os fundamentos científicos que todo o processo de mudança em cada um dos colaboradores fica muito mais reforçado, é aceite e implementado de outra forma, pela simples razão de ser mais do que uma narrativa, uma teoria ou uma opinião.

 

As experiências e as partilhas a que assistiu motivam-lhe algum comentário, pensando na realidade das empresas e no mundo do trabalho?

O mundo do trabalho está em clara evolução. Basta analisar, à luz da hierarquia das necessidades criada por Abraham Maslow, o seguinte: no tempo dos nossos pais trabalhávamos sobretudo para garantir a segurança, o básico; hoje os millennials procuram a autorrealização, buscam sobretudo um propósito e a sua felicidade não só fora mas também dentro das empresas. Neste capítulo, as neurociências explicam por exemplo a importância da Dopamina (chamada hormona da felicidade) na motivação das equipas. Entre outros exemplos, a investigação de Wolfram Schultz (neurocientista da Universidade de Cambridge) mostrou nas experiências com macacos que o pico de Dopamina libertada no cérebro destes não ocorria quando recebiam a sua recompensa após um exercício bem executado (no caso uma banana), mas sim no período imediatamente antes de receberem a recompensa. Traduzido para os seres humanos, isto significa que as emoções encadeadas por causa da expectativa da felicidade, de uma realização pessoal ou profissional, são sempre acompanhadas pelo aumento da produção da Dopamina. Numa empresa, esta é a grande responsabilidade dos líderes: fazer com que as equipas tenham a visão do todo, conheçam o seu propósito na organização e se foquem nas metas a atingir utilizando todos os seus recursos e conhecendo as suas limitações.

 

O que pensa fazer em Portugal com a colaboração que está a ter com a associação que promoveu o evento?

A Academia Alemã de Neurociências (AFNB) é representada internacionalmente pela ANE International, e têm como grande objetivo levar de forma prática às organizações e aos profissionais os conhecimentos científicos e as mais recentes descobertas sobre o cérebro. Para isso têm um conselho científico liderado por alguns neurocientistas de renome mundial (por exemplo, Eric Kandel, Prémio Nobel, ou Gerhard Roth), e o apoio de prestigiadas instituições, como é o caso do Instituto Max Planck. O fundador, Torsten Seelbach, e a diretora geral, Nieves Perez, convidaram-me para ser o diretor da academia para Portugal, desafio que aceitei com entusiasmo. Estou certo de que terá o maior sucesso no nosso país. Para já, o grande objetivo é iniciarmos este trimestre a abertura à entrada de novos membros na academia, permitindo desta forma que profissionais que se interessam pelo tema possam ter acesso ao maravilhoso mundo das neurociências e do conhecimento sobre o cérebro.

 

O seu grupo empresarial em Portugal vê esta área das neurociências como muito importante?

O SEAL Group reúne para Portugal, Espanha e Angola uma série de soluções para as empresas e outras organizações. Os nossos programas têm por base o conhecimento e a ciência, e são apoiados numa equipa internacional que permite criar o melhor puzzle de soluções para os nossos clientes, alunos e membros. Nesse sentido, as neurociências assentam como uma das áreas fundamentais para aquela que é a nossa grande missão: potenciar o desenvolvimento humano e melhorar a performance organizacional.

 

Houve um reposicionamento recente do grupo. Como foi levado a cabo e no que é que resultou?

A inspiração do SEAL Group vem do conceito da força de operações especiais americana «SEALs», que atuam com a certeza de uma intervenção rápida, objetiva e com garantia de resultados finais. «SEAL» é também o «selo» de qualidade que deixamos em tudo o que fazemos. O resultado foi uma única marca (SEAL Group), que tem como objetivo reunir as várias entidades que sendo reconhecidas em cada uma das áreas core da sua oferta se juntaram num propósito comum. Debaixo do mesmo chapéu temos a primeira business school do mundo (de França) presente no top 10 do ranking do «Financial Times», uma academia de neurociências e educação (da Alemanha), uma escola de coaching profissional e executivo (de Inglaterra), uma empresa especialista em talento e na metodologia «DISC» (dos Estados Unidos) e uma consultora (de Portugal). Cada uma destas entidades tem vida própria, equipas autónomas e soluções únicas, podendo em conjunto oferecer às empresas e a indivíduos programas integrados com grande amplitude de metodologias.

 

 

»»» Sérgio Almeida, chief executive officer (CEO) do SEAL Group, é diretor para Portugal da ANE International – Academy of Neuroscience and Education. A ANE está baseada na Alemanha e tem grande atividade na Europa Central, mas dispõe de representação em Portugal, Angola, Espanha, Itália, Reino Unido e países da América Latina. Organiza anualmente o «Fórum Internacional de Ciência – The Best of Neuroscience».