Paulo Nunes de Almeida
«Os jovens pretendem voltar, pois acreditam no futuro do país.»

O «Match Point Porto 2017», que integrou o projeto «Empreender 2020», da Fundação AEP, teve por objetivo estimular o espírito empreendedor no seio da diáspora portuguesa, com o foco dirigido aos jovens qualificados que recentemente deixaram o país em busca de um futuro diferente. Paulo Nunes de Almeida, presidente da Fundação AEP, faz agora um balanço da iniciativa e perspetiva os próximos passos.

Texto: Redação Human

Foto: DR

 

O que esteve na base da iniciativa do «Match Point Porto 2017»?

Esta iniciativa integrou uma das atividades do projeto «Empreender 2020 – Regresso de uma geração preparada», promovido pela Fundação AEP e cofinanciado pelo FEDER através do «Compete 2020». O projeto tem por objetivo criar condições que permitam fomentar o regresso dos jovens qualificados que deixaram o país nos últimos anos à procura de melhores oportunidades profissionais. Neste âmbito, foi realizado um estudo de diagnóstico com vista a caracterizar o público-alvo, procurando perceber quais são as suas expectativas e as suas condições de retorno, atinente à definição de um quadro medidas de curto e médio prazo, que possibilitem este regresso o mais rapidamente possível. Consideramos que este capital humano tem um enorme potencial, pelo elevado nível de qualificações acrescido da relevante experiência internacional, pelo que não podemos aguardar passivamente pelo seu regresso. Neste sentido, a criação de ferramentas de suporte, designadamente através de plataformas e outras iniciativas de networking que estimulem atitudes empreendedoras e promovam o relacionamento com as empresas portuguesas, pareceu-nos desde logo um acelerador para alcançar esse objetivo. O «Match Point» foi justamente um evento de networking entre as empresas e os jovens qualificados da diáspora, que resultou na concretização de cerca de 600 reuniões no formato de speed meeting cruzando competências com necessidades de recrutamento. Neste encontro participaram 50 empresas instaladas no país e cerca de 150 jovens das mais variadas áreas de saber e espalhados por diversas geografias, sobretudo na Europa.

 

Como pretendem dar seguimento à iniciativa?

A Fundação AEP lançou uma plataforma, denominada «Match Opportunities», acessível no sítio do projeto (www.empreender2020.pt) e ainda numa aplicação para dispositivos móveis onde as empresas e os jovens podem divulgar oportunidades, quer sejam de negócio, de parcerias ou de emprego. Aliás, as empresas que participaram no «Match Point» estão já a utilizar esta plataforma, através da colocação dos seus anúncios de oferta de oportunidades. A disseminação destas ferramentas é um aspeto essencial e decisivo para alargar a sua utilização de forma exponencial, pelo que agora o importante é garantir um acesso alargado a todos os interessados. Não obstante, e perante o sucesso da iniciativa, consideramos que o «Match Point» deveria ser repetido anualmente, até porque favorece o contacto presencial e promove um elevado nível de relacionamento entre os jovens e as empresas, aferido pelo número de reuniões que é possível realizar. É nosso objetivo dar continuidade a este tipo de iniciativas, pelo que a Fundação AEP irá trabalhar no sentido de procurar as melhores soluções e parcerias que viabilizem a sua concretização.

 

Por que é que várias empresas têm dificuldade em encontrar jovens qualificados?

Assistimos atualmente a um momento de recuperação da economia que coloca às empresas desafios de competitividade cada vez mais exigentes ao nível da inovação e do conhecimento, só ultrapassáveis se houver uma forte aposta em recursos humanos qualificados. No entanto, sabemos que existe um défice na oferta de quadros em determinadas áreas essenciais para o crescimento económico, em particular no domínio das tecnologias, em que a procura de especialistas com experiência, excede largamente o número de jovens licenciados, com tendência para um agravamento no curto prazo. O motivo desta situação reside justamente na recente crise económica que veio retrair a contratação de jovens licenciados, que acabaram por encontrar noutros países a possibilidade de integrar o mercado de trabalho e adquirir experiência profissional que agora importa potenciar. Aliás, esta foi a grande mais-valia do «Match Point», dado que as empresas tiveram oportunidade de contactar com jovens que acreditam no país e desejam regressar, trazendo consigo um conjunto de competências profissionais, pessoais e ainda sociais que se ajustam às necessidades atuais e futuras associadas à fase de crescimento económico.

 

Como se pode atrair jovens para um país tendencialmente de baixos salários, estando esses jovens em países onde a tendência é inversa?

A questão dos salários baixos em Portugal é muito relevante no âmbito deste processo. Contudo, as empresas, sobretudo as mais competitivas, têm consciência deste constrangimento e estão motivadas para iniciar um processo gradual de aproximação dos salários comparativamente a outros países, principalmente da Europa, até porque esta convergência constitui uma inevitabilidade para consolidar a recuperação e o crescimento económico. Para além deste aspeto, é importante referir o esforço das empresas em apostar numa melhor gestão de recursos humanos, trabalhando aspetos críticos para a retenção do capital humano, como a gestão de carreiras e a valorização profissional. Estou certo de que o atual cenário de crescimento e de confiança económica pode alavancar uma mudança de paradigma nesta vertente, que nos colocará num patamar ainda mais elevado a uma escala global. Sabemos que por um lado os jovens pretendem voltar, pois acreditam no futuro do país, e que por outro as empresas necessitam do seu conhecimento e das suas capacidades. Há pois que encontrar formas de promover este encontro win-win, trabalhando com ambos uma estratégia de sucesso.

 

O elevadíssimo nível de desemprego jovem em Portugal não representa de certa forma um paradoxo, pensando nesta iniciativa?

O desemprego jovem é de facto elevado, e engloba em grande maioria jovens com idades entre os 15 e os 24 anos que não estudam nem trabalham, e que rondavam os 300 mil no ano passado. Não sendo possível apurar estatisticamente a percentagem de jovens qualificados em situação de desemprego, estima-se que esta parcela possa ser substancialmente inferior, afetando particularmente licenciados em áreas de conhecimento desajustadas das necessidades do mercado. Uma vez que o «Match Point» se dirige aos jovens qualificados e atendendo à crescente procura por parte das empresas, não nos parece que exista qualquer paradoxo, podendo até contribuir para a diminuição deste indicador no quadro estatístico nacional.

 

O Porto tem um contexto diferente de Lisboa, por exemplo, para uma iniciativa como esta?

A questão demográfica em Portugal é grave em todas as regiões, bem como a atual dificuldade em contratar jovens qualificados em determinadas áreas. Muito embora essas situações se possam agravar nas regiões menos desenvolvidas, em particular no interior, o projeto «Empreender 2020 – O regresso de uma geração preparada» é de âmbito nacional, procurando dar uma resposta global a um problema concreto que atravessa toda a nossa sociedade.

 

 

»»» Paulo Nunes de Almeida, licenciado em «Economia» pela Universidade do Porto, iniciou a sua vida profissional no Banco Português do Atlântico, em 1982, tendo desde então desenvolvido atividade empresarial em vários sectores. Em termos associativos, foi vice-presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários e presidente da Mesa da Assembleia Geral, tendo desempenhado outros cargos diretivos na ACP – Associação Comercial do Porto e na ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, da qual foi presidente da Direção e presidente do Conselho Fiscal. É presidente do Conselho Geral da AEP – Associação Empresarial de Portugal e presidente da Fundação AEP, bem como membro do Conselho Geral da CIP – Confederação Empresarial de Portugal. É ainda presidente do Conselho Fiscal do Futebol Clube do Porto e da Futebol Clube do Porto – Futebol SAD.