Amália Rodrigues
A ressurreição em forma de livro

Uma viagem pela vida de uma das mais marcantes artistas do século XX, Amália Rodrigues, dando a conhecer memórias, encontros, desencontros e episódios menos conhecidos de uma fascinante carreira internacional.

 

Por Francisca Rodrigues

 

No livro «Amália – A Ressurreição» (ed. Casa das Letras), Fernando Dacosta, o autor, mostra como organizações como a PIDE, o KGB, a CIA e a Mossad vigiaram a diva com igual desconfiança. E como Salazar receava vê-la passar-se para a oposição, ou como enfrentou Pinochet recusando uma receção com que o ditador pretendia cumpliciá-la. Ou ainda episódios como o de guerrilheiros palestinianos que cancelaram um atentado em Beirute porque ela atuava na cidade ou o da Irmã Lúcia a escrever-lhe a pedir para não cantar «O Cochicho da Menina».

Desaparecida em 1999, Amália Rodrigues teve muito a ver com a posterior elevação do fado a «Património Imaterial da Humanidade». Este facto, aliado à paixão da juventude portuguesa, leva atualmente à revitalização do mesmo. Trata-se de um expressivo fenómeno cultural do nosso tempo, com dezenas de fados inéditos da cantora a serem descobertos, provocando um surpreendente renascimento de Amália.

O autor do livro assinala que «Camões deu-nos a língua, Pessoa o pensamento, Amália a voz». Fernando Dacosta, ficcionista e autor dramático, é formado em «Filologia Românica» pela Faculdade de Letras de Lisboa. Exerceu a atividade profissional de jornalista, na sequência da qual publicou os trabalhos de investigação jornalística «Os Retornados Estão a Mudar Portugal» («Grande Prémio de Reportagem» do Clube Português de Imprensa) e «Moçambique, Todo o Sofrimento do Mundo» («Prémio Gazeta» e «Prémio Fernando Pessoa»). Estreou-se como dramaturgo com «Um Jipe em Segunda Mão», peça que, tendo por tema as sequelas da guerra colonial portuguesa, foi distinguida com o «Grande Prémio de Teatro da RTP», e editada em 1983 com o monólogo dramático «A Súplica» e o diálogo «Um Suicídio Sem Importância», volumes a que se seguiriam os trabalhos teatrais «Sequestraram o Senhor Presidente» (1983) e «A Nave Adormecida» (1988). Tentado pela maior liberdade de tratamento do espaço e do tempo no registo novelístico, com «O Viúvo» («Grande Prémio da Literatura» do Círculo de Leitores) e «Os Infiéis» , afirmou-se no domínio da ficção com uma escrita instituída como indagação obsessiva sobre uma portugalidade entrevista num passado recente («O Viúvo» ) ou no período dos descobrimentos («Os Infiéis»), e estabelecendo nexos de intertextualidade com outros autores de língua portuguesa que integram ou refletiram sobre a mitologia do ser português, como Agostinho da Silva, Jaime Cortesão, Antero de Quental, Teixeira de Pascoaes, Oliveira Martins, Luís de Camões ou Fernando Pessoa.