Trabalhar com os outros

A capacidade das pessoas para trabalharem com outras é uma valência crítica nas empresas. Faz por isso todo o sentido saber quais as caraterísticas que mais contribuem para que isso aconteça.

Por José Duarte Dias

 

Há tempos, um amigo contava-me que não entendia por que é que muitas pessoas dizem que é muito importante que todas trabalhem bem umas com as outras, quando na prática o que mais vê é cada uma a «safar-se» por si, sem a mínima preocupação em ajudar colegas, mesmo que as vejam pressionadas e com falta de tempo. Nas suas palavras, «nas reuniões toda a gente está de acordo sobre ser importante que todas as pessoas colaborem e puxem para o mesmo lado, mas o que se vê no dia-a-dia é cada uma centrada em si e na sua função». Trata-se de uma realidade comum a muitas empresas que traduz uma clara ambivalência entre o que as pessoas dizem e aquilo que, de facto, fazem na prática.

A capacidade das pessoas para trabalharem com outras é uma valência crítica nas empresas. Faz por isso todo o sentido saber quais as caraterísticas que mais contribuem para que isso aconteça. Patrick Lencioni, um dos maiores especialistas na área do trabalho em equipa, sugere no seu livro «The Ideal Team Player», três caraterísticas que o membro ideal de equipa deve possuir: humildade, ambição e inteligência. Três atributos cuja conjugação, em simultâneo, numa mesma pessoa, não é fácil de encontrar, mas que são incontornáveis para que «o trabalhar com os outros» seja vivenciado de forma positiva e que o resultado final alcançado pelas equipas esteja em linha com o que é pretendido pela gestão. Humildade, ambição e inteligência são igualmente características fundamentais na remoção dos cinco bloqueios que, na perspetiva do referido autor, mais dificultam o trabalho em equipa: falta de confiança, receio do conflito, baixo compromisso com o todo, difusão da responsabilidade e reduzido foco nos objetivos da equipa.

A perspetiva que Lencioni nos apresenta em «The Ideal Team Player» coloca assim as empresas perante o desafio de identificarem, contratarem e desenvolverem pessoas que têm na humildade, na ambição e na inteligência três características distintivas da sua personalidade e de atuação no trabalho. Os responsáveis das empresas devem, assim, em fase de seleção atender ao valor do perfil psicológico, do mesmo modo que em relação ao perfil técnico. Uma tarefa que é fundamental para que as empresas contratem e desenvolvam pessoas capazes de se descentrarem de si, para se preocuparem e se assumirem igualmente como corresponsáveis pela realização do trabalho dos seus colegas e das equipas em que se inserem.

 

>>> José Duarte Dias é managing partner da Paradoxo Humano. Esta consultora, vocacionada para o desenvolvimento das empresas através das pessoas, tem no seu portefólio de clientes empresas de sectores como energia, indústria, engenharia e construção, financeiro, telecomunicações, tecnológico, turismo, auditoria e assessoria fiscal, transportes e administração pública. Conta com projetos realizados em Portugal, Espanha, Cabo Verde, República do Congo, Argélia, Guiné Equatorial e Angola.